As tatuagens do advogado Paulo Lemos têm repercutido nas redes sociais do país. Nesta última semana, ele gravou os rostos do ex-presidente Lula e da vereadora assassinada Marielle Franco nos seus braços. Natural de Paraná e com 37 anos, ele vive atualmente em Matupá (a 720 km de Cuiabá) e contou ao RD News  sobre o motivo de ter gravado as faces dos dois políticos no corpo.

Segundo Paulo, as tatuagens são protestos a execução da vereadora supostamente cometida por milicianos e a prisão de Lula que, na sua visão, foi injusta. “Me senti inspirado, quase na obrigação, de praticar esse ato”, pontua. Foi a primeira vez que ele, que já tem outras tatuagens pelo corpo, fez algo do gênero.

Pelas ruas da cidade, as tatuagens têm chamado atenção. “Algumas com ânimo, e outras com reprovação”, conta. O advogado foi até Peixoto de Azevedo, município vizinho a Matupá, para fazer os desenhos com a tatuadora Keuli Silva.

“A finalidade delas não é o embelezamento do corpo. E sim um protesto político em favor da democracia”, completa.

Paulo escolheu o ex-presidente, encarcerado pelo caso de corrupção no caso do Triplex do Guarujá, pela sua luta em prol dos menos favorecidos enquanto esteve no poder, e a vereadora assassinada pela luta na defesa dos direitos humanos nas favelas do Rio de Janeiro.

Após o procedimento, a tatuadora compartilhou o seu trabalho em redes sociais. De acordo com Paulo, as fotos causaram repercussão pelo país. Contudo, muitos amigos foram favoráveis em suas redes sociais, já que compartilham de sua visão política.

Paulo disse que não teme possíveis retaliações ou atos extremos contra sua integridade física de opositores políticos. Isso por que, no segundo turno das eleições do ano passado, 70,42% dos eleitores de Matupá votaram em Jair Bolsonaro (PSL) para presidente e que, mesmo após as votações, os dois lados (situação e oposição) continuam a se enfrentar pela internet e na vida real. O advogado comenta que todos na cidade já sabem de sua posição política.

“Nunca deixei de me posicionar. Não desconsidero essa possibilidade [de retaliações], mas se eu temesse por isso não tinha feito tudo isso. Eu acho que a vida é para ser vivida, e não acovardada”, comenta.

O “tudo isso” que Paulo se refere é a sua trajetória profissional que está entrelaçado com sua visão política. Há 20 anos, o advogado já se envolvia com ações na universidade na defesa de direitos sociais. Ele foi eleito para o Diretório Central dos Estudantes (DCE) e participou também da direção da União Nacional dos Estudantes (UNE).

Ao se formar em Direito, Paulo se tornou membro da Comissão de Direito Eleitoral da Ordem de Advogados do Brasil de Mato Groso (OAB). Foi ele o autor de um requerimento encaminhado ao presidente da classe para pedir o afastamento do desembargador Evandro Stábile. Em 2015, o magistrado foi aposentado compulsoriamente e condenado por corrupção passiva ao cobrar propinas para dar decisões no período em que foi presidente do Tribunal Regional Eleitoral de Mato Grosso. Ele cumpre atualmente pena no Centro de Custódia de Cuiabá em uma cela comum.

Além dessas atuações, Paulo já foi membro da Defensoria Pública, de outras comissões da OAB na área de direitos humanos e de movimentos de combate à corrupção. Durante o mandato do ex-governador Pedro Taques (PSDB), o advogado chegou a ocupar o cargo de chefe do gabinete a pedido do promotor Mauro Zaque que, na época, foi o secretário de Segurança Pública. Atualmente, ele só atua como advogado em Matupá, cidade em que viveu sua infância e adolescência, E tem atuado em diversos casos – de criminais a civis.

Por isso, Paulo disse que não terá dificuldade de agir para se defender em casos de ameaças, retaliações e atentados. “Se tiver que dar combate a gente dá. E, se o preço da defesa da democracia e dos direitos humanos e o estado de direito for esse [a vida], estou disposto a pagar”, frisa.